O momento, no entanto, era revolucionário na arte brasileira, em paralelo com o comportamento da juventude, discordavam de qualquer toque vindo de algum conhecimento oficializado, como era o caso de c, um diretor vindo de escola. Era a vez dos autodidatas. O grupo não aceitou a proposta de Mônica e foi unânime a decisão de só aceitar a minha direção, que, embora tivesse cursado a universidade, falava a mesma língua, vivia o mesmo sonho. Talvez tivesse sido bom para o grupo a direção do Fauzi que, na certa, nos daria uma postura teatral, que poderia se desenvolver ao longo da existência do grupo. Eu, da minha parte, não me incomodaria, uma vez que ainda na Bahia permitira que Valtinho Lima, um diretor de cinema baiano e nosso amigo, dirigisse o primeiro espetáculo, O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal. Não deu certo e eu vim dirigir. Perdemos a experiência de Valter Lima, mas ganhamos em criatividade. A realidade quis assim. Com Marcos Lázaro era diferente. Nós até insistíamos e fizemos uma proposta para apresentarmos um espetáculo num teatro grande, que hoje tem o nome de Zácaro, e que, na época, estava nas mãos dele. Dom Marcos nos disse que não tínhamos público ainda e que ele já acertara para a inauguração o espetáculo com Rita Pavone. Avisamo-lo de que Rita era carta fora do baralho, mas ele foi irredutível e o fracasso foi inevitável. O show não passou do primeiro dia, porque foram apenas cinco pessoas e Rita suspendeu a temporada no Brasil. Àquela altura, ela já era uma senhora, não tinha mais molejo para aquela onda vivida no auge da sua carreira. Marcos acreditava e muito nos Novos Baianos, desde o primeiro encontro, e passava por cima daquilo que se chamou travessura e irreverência do grupo e imagem fora dos padrões, porém, tudo dentro daquilo que imaginara, ou seja, usar o grupo no mesmo espaço em que colocava os artistas do seu Cast.
O pessoal que trabalhava com ele fazia apenas shows em clubes, até Roberto, o rei, e principal estrela da companhia, não fazia ainda shows em teatro. Poucos tinham sido os espetáculos desse gênero realizados no país. Na Bahia, havia Roberto Santana, um primo de Tom Zé e sobrinho do deputado federal Fernando Santana, que agitava o Teatro Vila Velha com shows musicais. Fizera o Nós, Por Exemplo, com Caetano, Gil, Gal e Tom Zé, fora um sucesso, com o lançamento dessa constelação de estrelas baianas, que depois decolaram e se transformaram nos astros que todos conhecem. No Rio, o Teatro Opinião era o único palco para os cantores, e lá iniciaram suas bem sucedidas carreiras, Nara Leão, Bethânia e João do Vale, que apareceu com a música Carcará.