O TERCEIRO TRIO ELÉTRICO DA BAHIA
E A RENOVAÇÃO
O Trio Elétrico Dodô e Osmar cuja história é conhecida por todos será sempre um destaque em todas conversas sobre trio elétrico. Qualquer passo dado para a evolução do invento dos dois baianos, Dodô e Osmar, somará para o trio, que leva o mesmo nome dos autores com acréscimo do doce Armandinho.
O Trio Elétrico Novos Baianos veio pela admiração que o grupo tem pelo Trio Dodô e Osmar, e porque todos os integrantes do grupo, em determinado momento, se identificam com o sentimento do sagrado movimento da vida, mesmo estando trabalhando na profana festa, inspirados nos santos, no cumprimento de uma missão de viver no meio dos homens ainda num primário estado de evolução. Pepeu, desde menino sonhava em ter um trio seu. Sonho natural de um guitarrista baiano que nasceu tocando, podemos dizer. O trio elétrico Novos Baianos teve a participação importantíssima de Pepeu, Moraes Moreira, embora não tenha participado da formação desse trio elétrico, pois já estava fora do grupo na ocasião, integrou o Trio Novos Baianos, na apresentação comemorativa dos 20 anos do grupo. Ele também sonhava cantar para um grande público como o de trio elétrico. E assim sonharam Baby, Paulinho e todos Novos Baianos; a ponto de Moraes colocar uma letra, por sinal boa, em “Pombo Correio”, composição de Osmar que foi sucesso no carnaval baiano de 1976.
Nesse mesmo ano, o trio elétrico Novos Baianos estreou na praça, com a participação de Paulinho e Baby, que eram os cantores do grupo, e Pepeu, que era o maestro mas, fazia o vocal. Incorporaram-se ao trio elétrico uma mesa de som, três microfones e trocaram-se as cornetas por caixas de som. Não podemos esquecer a importância que teve nosso saudoso técnico de som, Salomão, que desencarnou sorrindo, já depois do grupo desfeito.
Antes, quando incluímos o chorinho em nosso trabalho, Armandinho já dera a Pepeu a afinação certa do bandolim, e Jorginho Gomes vinha praticando o cavaquinho. Assim, não foi difícil chegarmos ao trio elétrico, com Dadi no baixo, Baixinho na bateria, Charles nos pratos, Bola no bumbo e mais o reforço de quatro caixas e três bumbos. O trio elétrico fez um som com personalidade, ficando conhecido pelo público pela característica desenhada por todas as áreas do trabalho, cordas, voz e percussão.
Depois, o trio elétrico Novos Baianos lançou o teclado no trio, trazendo Luciano Alves, um músico carioca. Marcantes foram os encontros dos trios Dodô e Osmar e Novos Baianos, nas madrugadas de terça de carnaval para quarta feira de cinzas, com a presença de Caetano Veloso e Moraes Moreira. No ano em que saiu a música “Festa no Interior”, Gal Costa também marcou presença, encantando-nos com sua voz. No finalzinho dessa fase, antes do carnaval axé, Gilberto Gil nos deu o prazer da sua presença.Os Novos Baianos em 1981, não apresentaram trio mas ,Moraes Moreira cantou no encerramento histórico do encontro dos trios. Caetano Veloso, sempre o príncipe do nosso explosivo carnaval, cantou o “Hino do Senhor do Bonfim”, com a cobertura da televisão e eu assisti a tudo com a mesma emoção vivida nos anos anteriores em cima do trio dos NB.
No início dos anos 70, Caetano fez uma série de frevos que fazem parte do repertório eterno do Bahia/Carnaval. Vou citar apenas “Atrás do Trio Elétrico”, “Chuva, Suor e Cerveja”, “A Filha da Chiquita Bacana”, “Deixa Sangrar” e “Ela Só Dá Bandeira”, para que você possa estudar a qualitativa poética do tempo Caetano no carnaval. Moraes Moreira, junto com outros poetas como Fausto Nilo, Abel Silva, Antonio Risério, substituíram Caetano, que se afastara dessa atividade carnavalesca, e não deixaram cair o nível poético com: “Chão da Praça”, “Bloco do Prazer”, “Moçambique”, “Festa do Interior”, “Eu sou o carnaval” e “Pombo Correio”, antes sucesso instrumental chamado “Doble Morse” e “Chame Gente” composta de parceria com Armandinho. Com o poeta Capinan, Moraes fez a também sucesso “Que Papo é Esse”.
O trio elétrico Dodô e Osmar tem a honra de ter sido criado por esses dois inventores baianos ter recebido, de forma merecida, o nome desses dois baianos históricos, e foi também, entre os trios, o que mais evoluções apresentou na área alegórica e de efeitos especiais, sem falar na qualidade da guitarra baiana de Armandinho e nos discurso de Osmar, o que fez do trio um palanque de causar inveja aos mais importantes políticos do universo.
Coube ao Trio elétrico Tapajós a exportação do trio elétrico para outros carnavais brasileiros, e podemos citar Curitiba como a praça de melhor adaptação. O Tapajós ainda teve o valor de participação nos carnavais de que O Trio elétrico Dodô e Osmar se ausentou, portanto, graças ao Tapajós, a chama do trio continuou acesa. Também, grandes guitarristas nasceram nesse trio, entre eles Luis Caldas e Renatinho Fechinne, que se desenvolveram e profissionalizar-se dentro daquela super popular atividade musical e beneficiaram-se com a excessiva comercialização na Bahia e que se espalha pelo Brasil e até no exterior. Muitas vezes, o Tapajós mandava os seus melhores músicos para o carnaval de Minas ou da Baixada Fluminense, por ser mais negócio em termos de grana, e deixava o seu trio em Salvador com músicos do seu terceiro escalão. O baiano, que é extremamente bairrista, considerava isso uma falta grave.
O Trio Elétrico Novos Baianos foi o responsável pela evolução do som que passou das estridentes cornetas-mamão para as sofisticadas caixas de som, instalações de mesa de 16 canais e microfones que possibilitaram a presença dos cantores. Tudo isso viabilizou o atual estágio do trio elétrico que hoje conta com uma infinidade de carros do gênero, graças também a estrutura de produção montada pelos blocos.
Uma grande injustiça cometida pelos organizadores oficiais do carnaval baiano, nos últimos anos, foi o afastamento de Baby Consuelo. Os portadores dessa idéia radical e burra esquecem que Baby foi à primeira cantora do trio, hoje uma profissão definida para várias garotas baianas com talento artístico, que poderiam ter se perdido ou desviado do curso dos seus dons artísticos para outro campo que não o de cantora de trio, não fosse o trabalho desenvolvido por Baby, possibilitando o exercício dessa nova profissão nascida na Bahia. Porque premiar a Baby com o exílio? Sua influência está viva aos olhos de todos, seja na forma de cantar ou pela postura e gestos de outras cantoras que ficam em segundo plano diante do trabalho desenvolvido por ela na praça, junto ao grande público. Baby parou briga, fez discurso, foi forte e fez cultura. Num daqueles carnavais, estávamos em cima do trio e de lá sacamos um indivíduo perverso, com uma gilete na mão, cortando a barriga das pessoas que dançavam despercebidas da sua crueldade. Baby na hora abriu a boca no microfone denunciando o desalmado que foi imediatamente preso. Pepeu também, embora baiano do Garcia, é discriminado e considerado carioca por morar no Rio. Moraes Moreira só não ficou fora porque foi à luta e deu testa com a organização municipal do carnaval de Salvador, contra um pensamento segregacionista e primário em formação.
Um nome da maior importância para a colocação do trio dos Novos Baianos foi Valdemar de Periperi, que já trabalhou na administração do Tapajós. Como força de expressão, podemos dizer que Valdemar, em outra encarnação já foi do trio elétrico, como nos diz sua dedicação a essa árdua e divertida causa baiana. Por anos seguidos, eu e Paulinho Boca viemos para a Bahia na frente do grupo, para conseguirmos patrocínio, providenciarmos a construção da estrutura metálica do trio e agilizarmos todo o esquema para a colocação, em tempo hábil, do nosso trabalho dentro do carnaval baiano. Procurávamos Valdemar, que se encarregava de administrar a construção da estrutura física do trio e arregimentar músicos para compor a percussão. Nos outros trios que ele ajudou a formar, Valdemar ficava responsável por quase tudo, até procurar patrocínio. Não era fácil a tarefa, em razão dos curtos espaços de tempo de que dispúnhamos, passamos sustos terríveis e vivíamos sempre sob tensão e expectativa mas, no final sempre conseguíamos nosso objetivo. Uma vez, a barra pesou tanto, que se não fossemos tão otimistas, dinâmicos e portadores de uma fé inabalável, a vaca ia pro brejo, para a frustração do grupo que jamais poderia se imaginar fora de um carnaval naquela década de O fato ocorreu mais ou menos assim: tínhamos recebido o dinheiro do patrocínio e mandamos construir a carcaça do trio mas, não encontramos um gerador de 60 ou 80 KW para fornecer energia elétrica para o trio. Na Bahia, todos sabem que o carnaval começa quinta-feira e já estávamos na sexta à tarde e nada de gerador, por mais que procurássemos. Aquela altura a nossa falta na rua era notada e reclamada. Baby Consuelo e Charles ficaram em casa concentrados exercitando a fé; eu e Paulinho Boca caímos em campo nas últimas tentativas para resolver o problema do gerador.
Soubemos que existia um gerador de 80 KW, em um órgão público e nos mandamos para lá. Como era a única alternativa que nos restava, partimos convictos que aquele gerador seria nosso durante o carnaval chovesse ou fizesse sol. Enquanto ficamos na anti-sala do diretor, esquecemos as pessoas presentes e nos concentramos numa mística, começando pelo som univérsico “Aum”, discretamente, em voz baixa e de forma imaginária. Passaram na tela individual de nossas mentes as figuras de Baby e Charles, também em atitude e posições semelhantes. Chegamos a comentar um para o outro, sobre aquela visão individual e, ao constatarmos que ela fora também em comum, tivemos a certeza de que finalmente o gerador caíra do céu, depois de tantas andanças nossas pelo purgatório terrestre. Demos um pulo de alegria e gritamos para espanto do pessoal que ali se encontrava: “É mole pro Vasco! Vamos incendiar no carnaval”. Embora o grupo fosse dividido em vascaínos e flamenguistas, com apenas Jorginho Gomes torcendo pelo Fluminense, exclamamos com essa gíria carioca porque eu e Paulinho Boca torcemos pelo Vasco.
Não precisou nem esperar mais, ali mesmo, na sala de espera, a sorte nos sorriu e daquela vez Maomé veio à montanha e o diretor, ao abrir a porta, vibrou dizendo: “É você Paulinho? Quero ver se você me reconhece? Lembra que já fomos amigos? Se você acertar o lugar onde convivemos antes, eu resolvo o problema de vocês seja qual for. É o poeta Galvão que está em minha frente? Você é dos meus preferidos”. Paulinho, gaguejando, mas, com firmeza, soltou a lábia: “A cara está diferente que eu quase não reconheci, mas, a voz é inconfundível: foi no colégio Central. Você sabe por onde anda Canção?” E os dois caíram na risada abraçando-se, e o diretor disse: “Esse Paulinho continua o mesmo, olhe de quem ele foi lembrar! Eu sou fulano”. Resultado: dali saímos com o gerador e o técnico que ele autorizou acompanhar o aparelho. Baby Consuelo, quando chegava em Salvador para o carnaval, nos acompanhava na busca do patrocínio e tinha, ela também, um papo convincente de canceriana. Só saíamos com o trio no sábado mas, quando pintanmos na praça e a galera, que já estava fula de raiva, julgando-nos irresponsáveis, esqueceu tudo e pulou atrás na frente e dos lados do Trio elétrico dos Novos Baianos.
Nós fizemos algumas músicas para o carnaval, que foram prejudicadas devido as gravações terem sido feitas em cima da hora e principalmente pela fraca divulgação. Não fizeram sucesso mas, algumas pessoas as cantam até hoje, pelo menos pedacinhos ou o refrão; outras nos perguntam por que não regrávamos. São exemplos: “No Tcheco-Tcheco”, “Ovo de Colombo”, e a “Praça Castro Alves”, cuja letra ainda atualíssima vou transcrever:
Por ironia do destino, duas músicas nossas que não foram especificamente feitas para carnaval alcançaram sucesso: “Preta Pretinha”, que é tocada em todos os carnavais baianos e em vários trios, e “Ela Não é Flor Que Se Cheire”, música que foi composta em 82, sendo interpretada por mais de um trio elétrico com letras nossa e melodia de Cardan, um compositor baiano que não toca instrumentos nenhum mas, bate os dedos nas cordas do violão enquanto fixa os dedos da outra mão nos braços dos acordes, e vai compondo um ritmo que vem de dentro dele. Mandamos a fita cassete para Pepeu gravar no disco que ele ia lançar. Pepeu e Jorginho Gomes ouviram, fizeram a harmonia, trocaram algumas notas e a música foi gravada, alcançando relativo sucesso. Houve uma história interessante nesta música. Eu tinha uma namoradinha de 17 anos de idade, que morava na Boca do Rio, onde eu também morava na casa de Cardan Dantas, que era um barato. A casa era pequena e modestíssima mas, muito visitada, principalmente por turistas. Acho que deveria ter sido tombada pelo Patrimônio Mundial. A namoradinha estudava no Colégio Nobel, no Rio Vermelho, e passava cedinho às cinco horas da manhã, batendo na janela e saltando-a para namorarmos. Algumas vezes, eu, como cavalheiro, levava-a de ônibus e gozávamos o visual da beira mar, deixando-a no colégio; outras vezes, ela voltava sozinha e em outras a espertinha filava aula. Eu não lembro o seu nome mas, ela foi a musa da letra que diz:
Toda manhã/ Ela bate em minha porta/ Toca em minha janela/ Só pra ver o sol entrar/ Eu lhe asseguro/ Ela não é flor que cheire/ Mas mais que o sol/ Ensolará o coração.
O Trio elétrico Novos Baianos é filho do Trio elétrico Dodô e Osmar, e por isso, além da qualidade musical dos seus instrumentistas, o repertório rico não esconde essa paternidade. Os cantores do grupo deram ao trio o toque que faltava, enriquecendo a grande criação baiana da seguinte forma: Moraes foi o primeiro cantor de trio elétrico a cantar no microfone inadequado que fora colocado para Osmar falar com o público mas, Moraes não resistiu. No ano seguinte, tanto Moraes quanto Baby e Paulinho, no Trio Novos Baianos, cantaram com microfone de qualidade e nosso trio apresentou o sistema de caixa de som. O repertório do trio elétrico Novos Baianos personalizava o trio pela originalidade e por fugir da regra geral, que era seguir as paradas de sucesso e as indicações dos musicais de televisão. Colocávamos apenas alguns sucessos que passavam pelo crivo da nossa seleção. Em razão desse comportamento, o Trio elétrico Dodô e Osmar, nos distinguia com os encontros históricos, bem como, a galera nos esperava com ansiedade de namorado, olhando o relógio e andando pra lá e pra cá.
Laçamos o compacto duplo relacionado abaixo mas, só ficou pronto três dias antes do carnaval, e por isso não houve tempo de divulgá-lo.
Trio Eletrico Novos Baianos(Novos Baianos
Compacto Duplo – Tapecar – 1976
CASEI NO NATAL, LARGUEI NO REVEILLON – (Letra: Galvão – Música: Pepeu)
Ei!/Ei, ei, ei ei, ei ,ei/Ei!/Ei, ei, ei ei, ei ,ei/thank very muth/Ei!/Ei, ei, ei ei, ei ,ei/Ei!/Ei, ei, ei ei, ei ,ei/Que bom que é casar/No dia de natal/Meu bem/ Que bom poder Largar/Que bom poder Largar/Largar no reveilon/ Ei, ei, ei ei, ei ,ei/Ei/Ei, ei, ei ei, ei ,ei/Meu bem/Seu Nelson/To eu soltinha da Silva/fugi que nem passarimho/ Livre até quarta feira/Ah, ah, ah, ahAí seu carneiroO negocio é só depois de fevereiro
PRA ENLOUQUECER NA PRACA (Instrumental Pepeu Gomes)
ALIBABA ALIBABOU (Charles/Jorginho/ Galvão)
APOTEOSE DO TRIO PRA DODO (Instrumental – Pepeu Gomes)
Mais uma vez chegamos atrasados e embora cantássemos no trio elétrico as músicas não aconteceram no carnaval.
No ano seguinte gravamos o LP Praga de Baiano
Praga De Baiano – 1977 TAPECAR
hola Galvao
escribo en español, porque lo domino mejor, espero que me entiende. Mi nombre es Walter Anliker, soy de nacionalidad suiza y viví entre los años 80 y 86 varias veces por meses durante el verano en Boca do Rio.
Te conocí y me regalaste un libro autografiado tuyo sobre el movimiento Tropical, muy autentico y creativo.
Soy amigo del escultor Ramos Melo y del musico Cardan Dantas, frecuentaba el bar Vagao y la praia dos artistas.
Si tienes contacto con ellos, avisame por favor.
con mucho gusto leo tus artículos.
Walter Anliker
COM CARDAN TENHO CONTATO, FREQUENTAMOS JUNTOS A UNIAo DO VEGETAL, onde bebemos Hoasca, Ramos Melo nao tenho visto, lancei um livro anos 70 , Novos e baianos, onde conto a historia desses tempos.
saludame mucho a Cardan Dantas y preguntale por favor, si tiene algun email en cual contactarlo.
Me gustaría mucho leer tu libro, ¿dónde lo consigo?
Fueron tiempos memorables y un lugar excelente, con gente lleno de calor y amor. Espero regresar algún día, aunque ahora todo ya cambio . . . asi es la vida.
Voy estar muy pendiente de tus publicaciones.
Un abrazo
Walter Anliker
apenas terminó el carnaval, ¿como estaba? y ahora todos cansados . . . . .
¿que es hoasca?
Hola Galvao
mi email es: astrowalter@prodigy.net.mx y mi página web es http://www.astrowalter.com.mx por favor pasarlos a Cardan Dantas. Muchas Gracias
outro intento más, o ultimo
cardandantas@gmail.com
muito obrigado